sábado, 28 de junho de 2008

O catador - Manoel de Barros


Um homem catava pregos no chão.

Sempre os encontrava deitados de comprido,

ou de lado,

ou de joelhos no chão.

Nunca de ponta.

Assim eles não furam mais - o homem pensava.

Eles não exercem mais a função de pregar.

São patrimônios inúteis da humanidade.

Ganharam o privilégio do abandono.

O homem passava o dia inteiro nessa função de catar

pregos enferrujados.

Acho que essa tarefa lhe dava algum estado.

Estado de pessoas que se enfeitam a trapos.

Catar coisas inúteis garante a soberania do Ser.

Garante a soberania de Ser mais do que Ter.


Tratado geral das grandezas do ínfimo, Editora Record - 2001, pág. 43.

Manoel Wenceslau Leite de Barros nasceu em Cuiabá (MT) no Beco da Marinha, beira do Rio Cuiabá, em 19 de dezembro de 1916.

sábado, 21 de junho de 2008

de flor a caroço

flores são para enfeitar, encantar os olhos, mas frutas... ah as frutas... elas são para deliciar todos os sentidos. descobrir as flores que sabem virar frutas cobrindo os troncos e ramos antes pelados, faz pular o coração. e começa uma nova história, em capítulos: as flores transformadas em pequenos botões, ensaiando a grande fruta. depois vem as frutas, inchando sob o sol , vestindo roupa nova a cada dia. e, quando menos se espera, estão prontas, oferecidas, querendo ser tocadas. a mão se estende, o sabor antegozado. a mão se recolhe, parece ser proibido interromper aquele ciclo. se deixadas como estão em suas árvores, vão cumprir sua missão de alimentar, senão quem não as colheu, pelo menos alguns pássaros. quando não são daquelas frutas que os pássaros mais gostam, vão pintar o chão com suas tintas, misturar-se às folhas que as precederam na queda e virão os insetos se lambuzarem em seus odores e sabores e cores. e elas, as frutas, terão sido, de flor a caroço, doce alimento.

no meu quintal tem um pé de guaraná

manhã de junho

sábado, seis da manhã, a alegria de estar aqui

acordar aos sábados às seis da manhã por opção é maravilhoso, por obrigação, uma tortura. mas como a natureza é sábia e tem consciência de que esta sua filha merece ser feliz, faz esta lua cheia brilhar ainda no céu, preguiçosa como a observadora encantada. e tudo se ilumina, por dentro, na alma. e mais um dia flui... como deve ser.

sábado, seis da manhã

sábado, seis da manhã

sexta-feira, 13 de junho de 2008

pedi a um amigo que fosse fotografar o prédio onde morei em londres ha alguns anos. ele foi, mas tinha lá em frente uma caçamba e ele ficou com preguiça de dar a volta para fotografar a porta de entrada. fiquei feliz assim mesmo. quem sabe, peço uma foto nova só da porta que eu gostava tanto!

uma antiga casa antiga

so pra conferir


2, devonshire street, london

quero, quero, quero

o que é feito do tempo em meus dias, não sei. só sei que nao consigo fazer as coisas que realmente gosto e que me dão muito prazer porque tenho que fazer, obrigatoriamente, aquelas que me desgastam. quero mais tempo para fotografar (e finalmente organizar todas as minhas fotos), criar meus patchworks, andar a pé pela praia com meu cachorro, ver o por do sol todas as tardes como sempre fiz, plantar minhas flores, fazer meus pratos prediletos bem devagarinho, comer sem pressa, dormir na rede, andar sozinha de carro, sem destino, ler muita poesia (e escrever algumas) ,dar muita risada, ouvir muito rock , ouvir meu filho tocar violão, andar de mãos dadas com minha filha...

essas são coisas que no momento não posso fazer. a saude já se ressentiu dessas ausências e eu já disse basta. mais dois meses para finalizar todos os compromissos assumidos e... voilá.. a liberdade!

quinta-feira, 12 de junho de 2008

xicaras só precisam de oportunidade











eram apenas seis pobres xícaras que resolveram sair da cozinha. achavam que precisavam conhecer o mundo e lá se foram. não é que aprenderam ser diferentes e agora desfilam por ai mostrando que para mudar, basta olhar e fazer?

ainda inseguras

de frente

de lado

perfil de supino

sem medo de ousar

terça-feira, 3 de junho de 2008

A TUA PRESENÇA

Fria, frígica, impalpável,

Em duros linhos envolta,

Tua presença outrora inseparável,

De mim se esconde, me faz revolta.

Fico a buscar por vias intermináveis

Teu vulto inesquecível de puro azul.

Invento paisagens insondáveis;

Perdida, confundo o norte com o sul.

Onde o teu calor que não esqueço,

O saber de tuas mãos, cadê ?

Será talvez que não te mereço,

Serei proscrita sem saber por que ?

Tua boca doce ainda me fala

Promessas guias cheias de luz.

Em que dobra do tempo fica esta sala

Onde te escondes, talhas minha cruz ?


Se tu mentias, me enganavas, me iludias,

Eu não sabia: dançava tonta como encantada.

Sentindo agora o corte profundo, lâminas frias,

Enfim eu sei: amava tonta, era tudo nada !