segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

minha irmã me ensinou

quando minha única irmã se foi, desfe-se aquela fila imaginária que começava com minha mãe, seguida por mim, depois minha irmã, meus filhos e sobrinhos, ad infinitum. iam os mais velhos, ficavam os mais novos. agora, cada dia é um dia, é O dia. a cada despertar e só ao despertar, planejo um dia, só esse dia. o amanhã nunca mais fez parte de qualquer projeto que eu faça. claro, inevitável ter o pensamento recorrente de como será o futuro. é um hábito (mal hábito) que temos todos. mas esse pensamento se dilui com muito maior facilidade agora, não é importante, é bobagem que afasto do pensamento. vale mesmo o dia. ao terminar mais um, agradeço. agradeço tudo e todos. não perco mais a oportunidade de fazer o que gosto, de dizer o que penso, de escrever sobre o que sinto. tem que ser agora, hoje, ou não se sabe mais se será feito ou dito. morbidez, dirão alguns, ter o pensamento da possibilidade da morte a cada dia. não! clareza, discernimento, pé no chão. se me perguntarem se isso traz amargura, responderei que, pelo contrário, traz uma alegria íntima muito nítida. saber viver, ou procurar viver o dia da melhor maneira que sabemos, procurando aprender, prestando atenção nas pessoas, captando o entorno, como uma antena. isso é viver e não ha tristeza nisso. a gratidão sentida diariamente abranda a alma, amansa os ânimos, adoça a voz, aquece o corpo. a dor da perda da minha irmã foi uma dura lição, mas se transforma como tudo deve se transformar. a falta que ela faz dói, mas dói hoje. não projeto o que será minha velhice (se tiver uma) sem ela. isso seria inútel. tiro dessa dor a lição positiva de viver bem a cada momento.

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